Maria Ondina Braga (1932-2003) revelou-se uma escritora com existência
errante e cosmopolita, cuja experiência de vida cruzou várias culturas e
continentes. Para além de uma notável atividade como tradutora,
legou-nos uma obra literária singular, sobretudo no campo da narrativa,
onde se cruzam a hibridez de géneros com modulações autobiográficas; uma
escrita memorialista, valorizadora de temas como a solidão e a
intimidade, o tempo e a memória; e ainda uma arte que realça o
quotidiano feminino, o lugar e a voz das mulheres, mas também a viagem e
a descoberta do outro.
Apesar de, ao longo de algumas décadas, Maria Ondina Braga ter sido
objecto de um conjunto relevante de críticos e de estudos (incluindo
algumas teses universitárias), a sua obra carece de renovadas visões que
proporcionem caminhos de desejável releitura, de verdadeiro reencontro
com uma escrita que, a vários níveis, se afirma como uma poderosa e
original interrogação do mundo contemporâneo. É com esse grande
objectivo que se organiza o presente Colóquio, reunindo alguns
estudiosos da obra da escritora. O resultado imediato será a publicação
de um volume temático, reunindo os diversos textos apresentados. |