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Ana
Monteiro
O Mito de Sísifo
De 5 de novembro a 31de dezembro de
2021
Museu Nogueira da Silva (Av. Central 61,
Braga)
Entrada gratuita
Galeria da Universidade
O mito de Sísifo
“Quero que tudo me seja explicado, ou então coisa nenhuma (…) O absurdo
nasce deste confronto entre o chamamento humano e o irrazoável silêncio
do mundo.”
Albert Camus
Lembro-me de ter escrito, há muitos anos atrás, que “o problema está em
não se saber quase nada…mas saber-se, ainda assim, alguma coisa.”
Ao longo dos anos fui reencontrando esse mesmo pensamento, uma e outra
vez, tecido pelas mãos de outros (a citação que encima este pequeno
texto é disso mesmo exemplo.) Palavras novas, diversas cores: sempre a
mesma inquietação. Qual angústia, transversal e suprema, que nos
chegasse a todos, sorrateira, nas horas de sossego onde a calma e o
tédio se entrelaçam.
Parados, no meio da névoa cerrada, temos como único farol o entendimento
da vastidão de tudo a quanto somos cegos (e a suspeita de sermos
certamente a substância de alguma piada cósmica). Inventamos a vida ao
nosso redor, tentando sempre esconder, no avesso das horas, esse pavor
que aprendemos a tornar em desconforto. E ocupamo-nos dos teatros, das
ficções, dos simulacros. Urdimos narrativas intrincadas, a transbordar
de tudo e nada…e seguimos adiante fingindo que não nos morde o não saber
onde vai dar o caminho. Sequer que caminho é. Ou quantos passos estão
por dar.
O conjunto de pinturas que aqui trago, é carregado de símbolos que nos
colocam diante de histórias onde essa inquietação é cantada com notas
que suportamos ouvir. Tornada objecto estético. E talvez nesse disfarce,
através da doçura da forma pintada, nos seja possível contemplar a pele
bizarra do absurdo… e a carne tingida da nossa identidade. Estrangeiros
de tudo. Lúcidos e cegos. Perdidos, ufanos, e nus… tentando,
maravilhosamente, compreender..
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