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A Exposição “O
Silêncio da Terra: visualidades (pós)coloniais intercetadas pelo Arquivo
Diamang” problematiza o arquivo fotográfico da Companhia de Diamantes de
Angola, constituído com o objetivo explícito de documentar a missão
civilizacional empreendida na Lunda, entre 1917 e 1974. A Exposição
corporiza um dos resultados do projeto de investigação “Mapeamento e
Sentidos Críticos do Arquivo Fotográfico da Empresa Companhia de
Diamantes de Angola (Diamang)”, coordenada por Fátima Moura Ferreira
(Lab2PT/Universidade do Minho).
A ambiguidade do título da Exposição – O
Silêncio da Terra – compagina-se com a ambiguidade da imagem da
fotografia colonial: o que é que ela mostra? O que é que ela oculta? O
que é que ela não deixa ver?
A copresença da fotografia colonial com
artefactos artísticos pós-coloniais interpela o olhar. Eventualmente,
convida a problematizar o que vemos a partir de um horizonte de presente
contínuo, atravessado por diferentes temporalidades. Como por camadas –
estratos –, à maneira do ofício do arqueólogo, do geólogo, do
historiador, do antropólogo …, somos levados a dissecar os enunciados
visuais, isto é: a desconstruir aquilo que nos é dado a observar e que
se cruza inevitavelmente com memórias pessoais, pós-memórias,
representações sociais que se impõem como hegemónicas no tempo.
Um primeiro desafio desta Exposição – que se
desdobra por dois espaços, Galeria do Paço e Museu Nogueira da Silva –
assume-se como um convite: um convite a alargar o olhar e a conviver
dialeticamente com os lados diferentes do que vemos e do que nos é dado
a ver.
“As minhas memórias [são] os meus
documentos”. O enunciado da artista plástica Louise Bourgeois (1911 -
2010) pode ser lido como um dos lados desse desafio. Porque não abrir
espaço ao que experienciamos e recordamos através de outros e às
experiências e memórias do outro? Ao mesmo tempo, abrindo espaço às
narrativas disciplinares produzidas sobre esse passado que olhamos,
sentimos e pensamos sob o espetro da coexistência dos tempos.
Lado a lado, a imagem da fotografia colonial
é colocada em confronto (em rigor: intercetada) por contranarrativas
oferecidas pela arte pós-colonial, pondo a nu as contradições das
narrativas instituídas. São assim sugeridas tensões e brechas que
ressoam dos artefactos visuais e que devolvem, ao olhar do presente, um
passado não concluído de relações não findas e questões em aberto.
A exposição da Galeria do Paço é concebida em
termos dialógicos e críticos entre 1) uma seleção do arquivo fotográfico
intercetada por 2) um conjunto de obras de artistas plásticos que
trabalham questões ligadas às memórias, às narrativas coloniais e
pós-coloniais e aos discursos produzidos sobre o colonialismo tardio
português e europeu.
A exposição do Museu Nogueira da Silva põe em
diálogo a reprodução integral do Arquivo Fotográfico da Empresa (Galeria
do Jardim), a residência artística de Délio Jasse (Galeria da
Universidade) e intervenções artísticas que têm por foco arquivos
coloniais.
Em suma: ao propor uma leitura intercetada
entre as fotografias na sua dimensão arquivística e colonial e a arte
contemporânea, a exposição inspira-se no conceito de ‘terceiro espaço’
(Bhabha, 1994) propício à (re)negociação de sentidos e significados a
partir de perspetivas e temporalidades múltiplas.
Artistas representados: Alida Rodrigues,
Ângela Ferreira, Catarina Simão, Délio Jasse, Filipa César,
Francisco Vidal, Henrique Neves Lopes, Irineu Destourelles, Kiluanji
Kia-Henda, Marilú Mapengo Námoda, Mónica de Miranda, Nuno Nunes-Ferreira,
René Tavares, Rita Rainho / Ângelo Lopes.
Calendário das exposições:
Galeria do Paço, Reitoria da Universidade do
Minho: 30/04 a 30/06
Galeria e espaços do Museu Nogueira da Silva:
30/04 a 11/09
Programa complementar:
Conferências, ciclo de cinema e visitas
guiadas (maio-junho)
Projeto de responsabilidade da equipa
curatorial composta por Duarte Belo/ Patrícia Leal e Fátima Moura Ferreira/Miguel
Bandeira Duarte.
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